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Crônica | Madame Orácula, A Visionária do Café Tarô

Na penumbra mágica do Café Tarô, o ar era impregnado com o aroma de especiarias exóticas e café recém-passado. Tapeçarias antigas adornavam as paredes, retratando os Quatro Elementos em cenas de dança e caos.

Na mesa central, Madame Orácula inclinava-se sobre um baralho de cartas de seu tarô favorito: um deck original de cartas vindo do tempo e espaço que chamam Alemanha. Seu olhar perfurante, como se enxergasse as fibras do destino, fitava o vazio enquanto suas mãos manipulavam as cartas com a leveza de quem já navegou por incontáveis futuros.

No balcão, Cubo-Auror, o autômato barista, girava suas engrenagens silenciosamente enquanto polia uma xícara. Seu corpo de bronze refletia a luz morna das luminárias encantadas. Sempre atento, ele observava os movimentos de Madame Orácula com sua peculiar voz metálica.

Cubo-Auror, o autômato barista

— O destino não é estático, sabe? — comentou o autômato, enquanto uma de suas mãos artificiais oferecia um café para um cliente distraído. — As cartas, assim como os céus, mudam conforme são lidas.

Madame Orácula sorriu de canto. Ela sabia que as palavras de Cubo-Auror (migrado de um tempo-espaço bem longe dos ciclos correntes) não eram meros comentários automáticos. Sua criação era mais que uma máquina; era uma síntese de sabedoria ancestral e engenhosidade moderna. Respondeu sem desviar os olhos das cartas:

— Nem mesmo o destino é imutável, Auror. É por isso que o lemos: para encontrar os fios que podemos puxar.

Enquanto falava, uma leve brisa atravessou o salão. Não havia janelas abertas, visto que o Café Tarô estava fechado para alguns Entremundos, mas os feixes de luz que banhavam o café pareceram vacilar. Um novo cliente adentrou o local: um homem encapuzado, sua figura envolta em sombras que pareciam repelir a luz. Ele aproximou-se da mesa central.

— Preciso de respostas, — disse, com uma voz que mais parecia o farfalhar de folhas secas.

Madame Orácula levantou o olhar. Seus dedos pararam de embaralhar as cartas, como se um chamado antigo tivesse interrompido sua ação. Cubo-Auror, sempre atento, aproximou-se com o som suave de engrenagens em movimento.

— As cartas não oferecem o que você busca, viajante, — disse Madame Orácula, sua voz calma, mas cheia de peso. — Mas elas podem apontar o caminho.

O encapuzado hesitou antes de assentir; olhou ao redor para ver se encontrava as portas que levavam para uma das câmaras reservadas. Madame Orácula não saiu dali, visto que o recinto estava vazio, começou a dispor as cartas em um padrão complexo, ali mesmo em sua mesa central, como se uma constelação estivesse sendo desenhada sobre a mesa. Cada carta irradiava uma luz tênue ao ser colocada. O Cubo-Auror observava, suas engrenagens parecendo girar mais rápido.

Quando a última carta foi virada, um símbolo desconhecido brilhou. Uma força invisível pareceu expandir-se pelo salão. O encapuzado deu um passo atrás, e Cubo-Auror imediatamente projetou uma barreira de luz ao redor da mesa.

— Este símbolo… não pertence ao nosso mundo, — disse Madame, estreitando os olhos. — Você trouxe algo consigo, algo de fora. Como conseguiu adentrar Café Tarô se estamos fechamos para os Entremundos?

A tensão no ar era palpável. O encapuzado, agora visivelmente inquieto, tentou recuar. Mas as palavras de Madame Orácula o prenderam.

— Há um preço para saber o que você busca. — Sua mão deslizou sobre a última carta, apagando o brilho. — O que você está disposto a sacrificar?

O cliente hesitou. Cubo-Auror, com um tom mais grave do que o usual, murmurou:

— Nem todas as portas levam de volta para casa.

Madame Orácula aguardou. Quando o homem finalmente assentiu, ela virou a última carta novamente. Desta vez, em vez de luz, uma sombra densa e silenciosa preencheu o espaço entre eles.

— Seu Entremundo chama por você, viajante. Mas lembre-se: os caminhos mais sombrios são trilhados apenas uma vez.

E, com isso, o homem desapareceu, engolido pela sombra que o envolvia. O ar no Café Tarô voltou ao normal, e as cartas de tarô repousaram como se nunca tivessem se movido.

Madame Orácula, a Visionária, se prepara para abrir o tarô para um visitante do Café Tarô

Cubo-Auror ajustou sua postura, limpando o balcão com um movimento mecânico.

— Parece que teremos uma noite tranquila, afinal, — ele disse, com um leve humor em sua voz metálica.

Madame Orácula recolheu as cartas, olhando brevemente para o Cubo.

— Por enquanto, Auror. Por enquanto.

A luz das luminárias continuava a brilhar suavemente, e o aroma de café e especiarias pairava no ar, como se o destino tivesse feito apenas uma breve visita àquele refúgio entre os mundos.

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