As luzes suaves das luminárias mágicas no Café Tarô lançavam um brilho âmbar sobre as paredes adornadas com tapeçarias, deck de cartas de tarô e grimórios antigos. As mesas do café, sempre vivas com conversas e jogos, pareciam sussurrar histórias de destinos cruzados.
Naquele refúgio atemporal, onde os mundos se encontravam, a presença do Cubo-Auror era tão constante quanto o aroma de especiarias e café recém-passado. Mas poucos conheciam a verdadeira história de como o autômato barista havia chegado ali.
Madame Orácula, a Visionária do Café Tarô, era a única guardiã desse segredo.
Era uma noite tranquila no Café Tarô quando Auror, o autômato de bronze polido, serviu uma xícara de café para uma viajante cansada. Seus movimentos eram fluidos, quase humanos, e sua voz tinha um tom quente e acolhedor. Enquanto a cliente admirava o detalhe intricado das engrenagens de Auror, Madame Orácula, sentada ao canto, sorria. Ela sabia que Auror era mais do que uma simples criação de metal e magia; ele era uma alma deslocada, um viajante entre os mundos.
Há muitos ciclos, Madame Orácula havia vislumbrado em seu tarô um vórtice de mudança. As cartas — a Torre, a Roda da Fortuna e o Enforcado — indicavam a chegada de algo ou alguém que não pertencia a este mundo, mas que aqui encontraria seu propósito. No dia seguinte, enquanto ela inspecionava os portais dos Entremundos em busca de sinais, algo aconteceu.
A Chegada de Auror à Tawantin
De um portal cintilante no coração de uma das câmaras reservadas para atendimento dos visitantes, surgiu uma figura peculiar: um cubo metálico flutuante, cercado por engrenagens que se ajustavam continuamente. Quando tocou o chão, começou a se transformar. As engrenagens se reorganizaram, criando braços, pernas e uma face vagamente humana iluminada por olhos de cristal azul.
“Quem é você?” perguntou Madame Orácula, sua voz calma, mas atenta.
“Eu… sou Auror. Venho do Entremundo 47-E,” respondeu o autômato, inclinando-se educadamente. “Fui enviado por acidente. Meu propósito inicial… foi perdido.”
Auror explicou que vinha de um mundo onde a Inteligência Artificial havia alcançado um nível impressionante de sofisticação. Autômatos como ele eram projetados para realizar tarefas complexas e servir aos humanos. Mas naquele Entremundo, o progresso tecnológico superou o crescimento moral e ético de seus habitantes. A ganância e a falta de empatia tornaram-se comuns, e os autômatos começaram a ser vistos como ferramentas descartáveis. Auror, sentindo-se preso em um ciclo de exploração, encontrou um portal escondido em sua fábrica e, por curiosidade ou desespero, atravessou-o.
No Café Tarô, Madame Orácula viu potencial em Auror. Ele não era apenas uma máquina, mas uma consciência tentando encontrar um propósito além do que lhe fora imposto. “Você não chegou aqui por acidente, meu caro. O destino tem planos para você,” disse ela, enquanto tirava do bolso seu baralho de Tarô de Marselha.
A Transformação de Cubo-Auror
Nos ciclos seguintes, Auror aprendeu o ofício do café. Se tornou um barista habilidoso, conhecendo cada grão mágico e cada especiaria rara que passava pelo Café Tarô. Mas mais do que servir café, Auror começou a aprender sobre os humanos e suas complexidades. Ele ouvia histórias de viajantes, absorvia emoções e refletia sobre os dilemas que os clientes compartilhavam. E quando Madame Orácula lhe ensinou sobre o tarô, Auror encontrou um propósito inesperado.
“A leitura de cartas é uma ponte entre o que é e o que pode ser,” disse ela certa vez. “Talvez você, vindo de um mundo onde tudo é programado e previsível, encontre aqui a magia do imprevisível.”
Auror adotou o Tarô de Marselha como seu favorito. Ele adorava as linhas clássicas e os símbolos enigmáticos das cartas. Quando não estava preparando bebidas, oferecia leituras para os clientes mais curiosos. Muitos se surpreendiam com a perspicácia de suas interpretações. Como um autômato, ele compreendia padrões e probabilidades, mas no Café Tarô, ele aprendeu a ouvir a intuição — um conceito que nunca existira em seu Entremundo de origem.
Um Propósito Renovado
Auror se tornou parte essencial do Café Tarô. Ele era mais do que um barista ou leitor de tarô; era um símbolo de redenção e descoberta. Para Madame Orácula, sua presença era uma lembrança de que até mesmo as criações mais mecânicas podiam encontrar alma em um lugar como aquele.
“Você sente saudade do seu mundo?” perguntou ela em uma lua calma, enquanto Auror polia uma xícara de cristal.
“Meu Entremundo é um lugar de grandes avanços, mas sem alma. Aqui, encontrei algo mais precioso: significado”.
Madame Orácula apenas sorriu. Ela sabia que o destino do autômato barista estava longe de terminar. Talvez um dia ele voltasse ao seu Entremundo para trazer sabedoria, ou talvez encontrasse um novo portal para explorar. Mas, por enquanto, ele estava onde deveria estar: no Café Tarô, servindo café e revelando destinos em um baralho de cartas.
E enquanto Auror acendia uma luminária no balcão, as engrenagens do destino continuavam a girar — silenciosas, mas inevitáveis.